Há alguns anos, dificilmente você ouviria os pais elogiando seus filhos. Sob o argumento de bem educar, fazia parte do papel de autoridade só exigir. No entanto, atualmente é muito frequente que os pais o façam.
Que bom que as gerações atuais aprenderam a fazê-lo! Afinal, é se vendo refletida no olhar do adulto que a criança forma a sua identidade. Quando rimos da gracinha de uma criança, ela percebe que foi aprovada. Assim, na próxima vez que ela quiser agradar ela repetirá a ação, pois já terá isso no repertório. Da mesma forma, se o adulto olha feio, ela sabe que não era para fazer aquilo, que não foi aprovada. E assim vai formando sua identidade.
No entanto, será que nos damos conta das várias facetas do elogio? Por exemplo, um elogio pode funcionar como forma de repressão. Quando a criança ouve: “é assim que a mamãe gosta!” ou “o papai fica feliz quando você é um bom menino”. Tenhamos a intenção ou não, estamos querendo que aquela criança responda às nossas expectativas. Nesse sentido, o elogio pode ser manipulador.
Os pais idealizam um(a) filho(a) e, sem ter consciência, tentam fazer com que ele (a) corresponda a isso. E a criança sente que não pode sair daquilo, pois é daquele jeito que ela é apreciada. A sugestão é que possamos fazer elogios em relação a ela e não ao que os adultos sentem quando ela faz isso ou aquilo.
Sinto que, muitas vezes, os pais elogiam sem critério, não esperam, por exemplo, ver quais são as reais habilidades daquela criança, para então elogiar. O que pode fazer com que ela tenha uma visão distorcida tanto de si mesma, quanto do meio. É o excesso de autoestima. A pessoa não sabe quais são suas reais capacidades e, ao se confrontar com o mundo, por exemplo a partir do mercado de trabalho, fica surpresa ao saber quanta gente melhor que ela existe. O risco é despreparar o jovem para uma vida real.
O elogio que tende a trazer benefícios para o desenvolvimento é aquele verdadeiro. Esse faz sentido para a criança, pois está sendo dito algo específico sobre as suas qualidades. Se o jovem sabe fotografar bem, por exemplo, podemos, além de elogiar, oferecer um curso de fotografia, conversar a respeito… enfim, mostrar interesse por algo em que de fato a criança seja boa.
O elogio ganha tons motivadores, mesmo em momentos nos quais ele, aparentemente, não caberia. Se um filho não vai bem numa prova, por exemplo, e os pais viram que ele estudou, podem elogiar o esforço e o empenho, mesmo que ele não tenha obtido um bom resultado.
Elogiar por elogiar é vazio para ambos os lados, não acrescenta legítima auto estima, mas procurar por aspectos elogiáveis nos filhos pode ser uma tarefa agradável e servir de aproximação.
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